Alimentar e Suplementar correctamente
Maneio Alimentar
Um correcto maneio alimentar é fundamental para o bem-estar e saúde dos cavalos, em termos comportamentais, digestivos e metabólicos.
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Fibra – O que são super fibras?
As pastagens ou forragens são, naturalmente, o primeiro recurso enquanto fonte de fibra na dieta do cavalo. Contudo, há alimentos que são também relevantes fontes de fibra e que apresentam uma densidade energética superior às forragens, com maior teor de fibra digerível – esses alimentos são designados por “super fibras”.
A densidade energética das “super fibras” é inferior à densidade energética dos cereais (p.e. milho, a cevada e aveia) e, dada a sua natureza fibrosa, não apresentam os riscos associados ao aporte excessivo de amido, sendo assim consideradas uma forma segura de aportar energia extra e promotora da saúde intestinal.
As “super fibras” são muitas vezes constituintes dos alimentos compostos complementares (“ração”), aportando fibra a esse alimento, sendo que apresentam uma particular expressão nos alimentos comerciais com alegações de “ricos em fibra” ou “cereal free”. Sendo que nestes últimos, na ausência dos cereais, a gordura assume também um papel de destaque no aporte energético.
São também utilizadas de forma complementar à forragem e ao alimento composto habitual, sendo particularmente úteis:
- A complementar fenos com digestibilidades baixas.
- Quando pretendemos aportar mais energia sem aumentar os níveis de amido (quando o consumo de concentrado já é significativo ou em equinos particularmente suscetíveis ao mesmo, como é o caso de equinos com Úlceras Gástricas ou predisposição a miopatias).
- Em animais com problemas dentários, como os cavalos geriátricos, dada a dificuldade que apresentam em consumir quantidades adequadas de forragem/ pastagem.
- Em cavalos com dificuldade em manter uma condição corporal adequada.
- Em cavalos submetidos a esforços prolongados (como na disciplina de endurance), beneficiam desta fonte de energia, que adicionalmente promove a retenção de água no espaço extravascular, contribuindo para que o intestino funcione como reservatório de água e eletrólitos.
- Entre outras utilizações.
“Super fibras” mais utilizadas
As “super fibras” mais utilizadas na alimentação equina são a polpa de beterraba e a casca de soja. Outros tipos de super fibras menos utilizadas são, por exemplo, as cascas de amêndoa ou a polpa cítrica, sendo que apesar de apresentarem fibra de boa digestibilidade, apresentam palatibilidade reduzida quando utilizadas nesta espécie.
Polpa de beterraba
A polpa de beterraba apresenta um teor em fibra digerível considerável (cerca de 85% da sua fibra é digerível), é pobre em amido e é considerado um alimento relativamente pobre em açúcar (cerca de 10% de açúcar). Apresenta um conteúdo em proteína variável (varia entre 8 a 12%), idêntico a uma boa forragem de gramíneas, e o teor de cálcio é relevante, embora inferior ao que encontramos, por exemplo, numa luzerna.
Apesar das vantagens que este produto apresenta, não é aconselhável que seja utilizada como substituto de forragem, mas sim de forma complementar, por ser rapidamente fermentável, por apresentar essencialmente fibra digerível e por ser relativamente pobre em outras substâncias que a forragem aporta (por exemplo, vitaminas e outros minerais).
ALFABEET
Casca de soja
A casca de soja é com frequência incorporada em alimentos concentrados para lhes aportar fibra, apresentando uma fibra de elevada digestibilidade (cerca de 75%). É menos usual o seu consumo complementar ao feno e ao alimento concentrado, sendo menos frequente a sua comercialização em granulado para cliente final e sendo menor a palatibilidade.
Outros alimentos utilizados para aportar fibra
Sêmea de trigo
A sêmea de trigo é um constituinte habitual dos alimentos concentrados. O teor em fibra desta matéria-prima não é tão elevado como se pensa, apresentando 10 a 12% de fibra bruta (por oposição a cerca de 20% na polpa de beterraba) e a sua utilização isolada, adicional ao alimento concentrado e à forragem, apresenta, alguns inconvenientes que deverão ser considerados:
- É um alimento rico em fósforo e pobre em cálcio, sendo que esta matéria-prima apresenta o rácio cálcio/ fósforo invertido (o rácio cálcio/ fósforo de um alimento para cavalos deverá ser de 1.5 a 2 para 1). Este rácio é corrigido quando a sêmea é incorporada num alimento concentrado, através da adição de cálcio. Quando a sua utilização é isolada e feita empiricamente pelos proprietários, pode contribuir para problemas ortopédicos em animais em crescimento, hiperparatiroidismo secundário nutricional, entre outros problemas.
- O teor em amido não é desprezável, variando entre os 15 e os 20%.
- A sêmea de trigo não processada termicamente é com frequência uma matéria-prima pouco “limpa” do ponto de vista microbiológico.
Luzerna
Utiliza-se ainda a luzerna como fonte de fibra de boa qualidade. Apesar do teor de fibra digerível da luzerna ser variável, à semelhança de qualquer forragem, esta é uma boa opção, apresentando um teor proteico e de cálcio significativo.
ALFALFA
WAFER
A reter:
- Fontes de fibra de elevada digestibilidade e com uma densidade energética superior às forragens são vulgarmente designadas por “super fibras”.
- A utilização das “super fibras” permite complementar fenos de baixa digestibilidade, aumentar o aporte energético sem aumentar o amido, aportar fibra a cavalos com problemas dentários, entre outras utilizações.
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Fibra – Qual a sua importância?
Estejamos a falar de cavalos de desporto ou de criação, a base de bom maneio alimentar assenta na escolha de um bom alimento forrageiro, bem como em fornecer esse alimento em quantidades adequadas. Isto porque sendo os equinos animais herbívoros, estão preparados do ponto de vista anatomofisiológico para suprir uma grande parte das suas necessidades energéticas através da digestão do alimento fibroso.
Digestão do alimento fibroso
Relativamente à digestão do alimento fibroso, esta ocorre por fermentação microbiana no ceco e cólon, com o apoio de uma microflora residente constituída por bactérias, protozoários e leveduras. Desses processos fermentativos resultam ácidos gordos voláteis (AGVs), que são absorvidos para a corrente sanguínea e convertidos em glucose, para utilização imediata, ou armazenados sob a forma de gordura, constituindo reservas energéticas para utilização futura.
A fonte forrageira deve assim ser vista como um recurso energético fundamental, mas não se cinge unicamente a este papel. A disponibilização de alimento forrageiro, em quantidade adequada ou “ad libitum”, é benéfica dos pontos de vista comportamental, gastrointestinal e nutricional.
- Comportamental
Dar alimento forrageiro é um fator essencial ao desempenho do comportamento fisiológico do equino, na medida em que permite ao equino reproduzir o seu comportamento em meio natural, proporcionando uma ingestão continuada no tempo, reduzindo os problemas comportamentais (designados por “birras”).
- Gastrointestinal
Fornecer alimento forrageiro contribui para uma adequada motilidade intestinal.
Este alimento é necessário para a manutenção de uma flora intestinal residente adequada, sendo a relação entre a microbiota intestinal e o cavalo de simbiótica (ambas as partes beneficiam). O cavalo necessita desta flora microbiana (maioritariamente composta por bactérias celulolíticas) para digerir a fibra. A fibra, por sua vez, é necessária para que essa microbiota se mantenha estável, prevenindo um desenvolvimento crescente de bactérias produtoras de ácido láctico que promovem acidez intestinal, tornando o meio mais favorável ao desenvolvimento de bactérias patogénicas como a Coli e a Salmonella.
A mastigação continuada associada ao alimento fibroso contribui para um aumento da salivação, sendo que a saliva contém naturalmente bicarbonato que atua como tampão, promovendo o aumento do pH gástrico e contribuindo para a prevenção de problemas associados à acidez gástrica, como por exemplo a Síndrome de Ulceração Gástrica Equina tão prevalente no cavalo atleta.
A fibra contribui ainda para a retenção da água a nível intestinal, sendo que o intestino grosso funciona como um importante reservatório de água, disponível para quando o equino necessita, prevenindo a desidratação e depleção de eletrólitos em esforços prolongados.
- Nutricional
O alimento fibroso para além de fonte energética é também fonte de minerais e vitaminas importantes para o cavalo. É ainda relevante enquanto substrato fermentável para a microbiota intestinal, que possui a capacidade de produzir algumas vitaminas do complexo B.
A reter:
- O alimento forrageiro é fundamental do ponto de vista energético e para a manutenção de um trato gastrointestinal saudável, devendo em quantidade corresponder a cerca de 1.5% do peso vivo do equino e constituir cerca 60% do total de alimentos fornecidos (mínimo 50%).
- Consumos insuficientes de fibra contribuem para o desenvolvimento de problemas comportamentais (“birras”), acidose intestinal, disbiose intestinal, úlceras gástricas, “cólicas”, entre outros problemas.
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Quais são os principais componentes dos alimentos?
Uma das principais preocupações a ter em conta na alimentação de cavalos, é saber se recebem alimentos com características nutricionais adequadas ao tipo de esforço que lhe é exigido, ou seja, se a alimentação é equilibrada em termos de energia, proteína, vitaminas e minerais. Outra das preocupações, assenta na escolha do alimento composto fornecido, no sentido de garantir a utilização de matérias-primas de qualidade e na adequação do seu processamento, se for o caso.
Pastagens
Relativamente às pastagens, as leguminosas são importantes pois têm maior concentração de cálcio e de proteína digestível em relação às gramíneas, pelo que aumentam o valor nutricional da erva consumida. As leguminosas permitem, também, uma melhoria da fertilidade do solo, já as gramíneas são as mais resistentes ao pastoreio, pelo que uma pastagem adequada para equinos deve conter uma mistura de ambas, com 20 a 30% de leguminosas.
Feno e feno-silagem
O feno e feno-silagem são métodos de colheita e conservação de forragem, sendo que acarretam perdas variáveis do valor nutritivo dos alimentos face ao respetivo conteúdo em verde. A altura ótima para corte nas gramíneas é no início do espigamento e a das leguminosas no início da floração.
A palha de cereais (trigo, cevada, aveia, etc.) caracteriza-se por ter uma digestibilidade baixa e um valor nutritivo residual. É um alimento pobre em energia, em proteína e em macroelementos minerais, e apresenta ainda uma ingestão voluntária inferior face aos fenos, pelo que a sua utilização deverá estar limitada a situações de escassez de forragens.
Soluções Forrageiras Intacol
Alimentos compostos
Os alimentos compostos para cavalos deverão ser complementares às forragens. As principais matérias-primas utilizadas no fabrico do alimento composto subdividem-se em: matérias-primas energéticas, proteicas e fibrosas. Para além das matérias-primas, os alimentos compostos costumam conter ainda uma pré-mistura de aditivos que permite equilibrar o alimento do ponto de vista mineral e vitamínico.
Alimentos Compostos Intacol
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Entender o comportamento alimentar do cavalo
A dieta do cavalo está associada ao seu comportamento alimentar e às características específicas gastrointestinais que os mesmos apresentam. Assim, um maneio alimentar adequado é fundamental, influenciando a saúde do cavalo em termos comportamentais, digestivos e metabólicos.
Fisiologia digestiva
O cavalo é um animal herbívoro monogástrico com um aparelho digestivo constituído por um estômago pouco volumoso e um intestino delgado e grosso bem desenvolvidos. Assim, o tipo de digestão tem características que combinam as vantagens da digestão enzimática com as vantagens da digestão microbiana.
A fisiologia digestiva dos equinos é caracterizada por uma rápida e intensa digestão enzimática no intestino delgado e um longo e intenso processo de fermentação microbiana no intestino grosso.
Ingestão de alimentos
O cavalo revela uma elevada capacidade de ingerir alimentos forrageiros, em parte devido à população microbiana do intestino grosso, que é capaz de aproveitar alimentos ricos em fibra e reciclar o azoto. Ao longo da sua evolução, o cavalo adquiriu a capacidade de consumir elevadas quantidades de forragem, por forma a garantir a cobertura das suas necessidades energéticas, dada a baixa digestibilidade deste tipo de alimentos.
Éguas e poldros
Normalmente após o parto, tanto as éguas como os poldros são colocados na pastagem o mais cedo possível, pelo que a erva, juntamente com as forragens conservadas, representa 60 a 80% da alimentação destes animais. Manter os animais em pastoreio traz vantagens em termos de nutrição, exercício e expressão do comportamento natural.
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Cavalos de desporto
Já o maneio alimentar do cavalo de desporto irá variar consoante o tipo e intensidade do esforço exigido ao cavalo. A atividade física acentua o trabalho músculo-esquelético, intensifica a circulação sanguínea e a função respiratória. Também o confinamento do animal em boxe e a ausência de pastoreio, faz com que se modifique o maneio alimentar.
Contudo, essas alterações devem respeitar o princípio geral de que o regime alimentar deverá ser, essencialmente, constituído por alimento forrageiro de qualidade e ter como complemento o alimento composto.